Tipos de pesquisa

Luiz Henrique Santana
6 min readApr 7, 2024

Objetivos Didáticos

a. Construir uma compreensão sólida dos diferentes tipos de projetos de pesquisa e suas características.

b. Selecionar o tipo de projeto de pesquisa mais apropriado para uma determinada pergunta de pesquisa e compreendam as implicações de escolher um determinado tipo de projeto de pesquisa em relação à validade interna e externa dos resultados.

c. Reconhecer exemplos de cada tipo de projeto de pesquisa e entender as aplicações práticas desses projetos.

Conhecimentos prévios desejados

a. É útil que os leitores tenham uma compreensão básica do processo de pesquisa em ciências do comportamento e das principais etapas do método científico.

b. Estar familiarizados com termos como variável independente, variável dependente, manipulação, controle e randomização.

Introdução

A pesquisa científica é um caminhar no escuro. Uma jornada sistemática e objetiva rumo à compreensão do mundo natural e social que nos cerca. Esse processo contínuo tem como missão desvendar novos conhecimentos, iluminar caminhos e aprofundar nossa percepção da realidade. No universo da pesquisa científica, encontramos diversas vertentes, mas elas podem ser agrupadas em três categorias principais: pesquisa experimental, pesquisa observacional e pesquisa quase-experimental.

O método experimental é uma abordagem de pesquisa na qual o pesquisador manipula deliberadamente uma ou mais variáveis independentes para observar os efeitos dessa manipulação sobre uma variável dependente. Ele se baseia na formulação de hipóteses causais, onde se supõe que a alteração de uma variável (independente) causa uma mudança em outra variável (dependente). Essa manipulação e observação controladas são fundamentais para estabelecer relações de causa e efeito de forma confiável. O método experimental está intrinsecamente ligado ao método indutivo, que se refere à formulação de conclusões gerais a partir de observações específicas. No contexto experimental, o pesquisador parte de observações empíricas e, por meio de um processo indutivo, formula hipóteses sobre as relações de causa e efeito entre variáveis. Essas hipóteses são então testadas por meio da manipulação experimental e da observação dos resultados.

A explicação de fenômenos de causa e efeito é uma das principais metas do método experimental. Ao realizar experimentos controlados, os pesquisadores podem determinar se uma variável específica influencia diretamente outra variável, permitindo a identificação de relações causais entre os fenômenos estudados. Essa abordagem proporciona uma compreensão mais profunda dos processos subjacentes aos fenômenos naturais e é fundamental para o desenvolvimento de teorias científicas robustas. Uma pesquisa é considerada experimental quando envolve a manipulação sistemática de uma ou mais variáveis independentes pelo pesquisador, enquanto outras variáveis são controladas ou mantidas constantes. Esse tipo de arranjo é conhecido como controle experimental.

Em uma pesquisa experimental, os participantes são geralmente atribuídos aleatoriamente a diferentes condições experimentais para garantir que quaisquer diferenças observadas nos resultados sejam atribuíveis à manipulação das variáveis independentes, e não a fatores externos ou viés de seleção. Portanto, o arranjo característico de uma pesquisa experimental é a presença de pelo menos duas condições experimentais: uma na qual a variável independente é manipulada (grupo experimental) e outra na qual a variável independente não é manipulada (grupo de controle). Essa comparação entre grupos é essencial para determinar o impacto da variável independente sobre a variável dependente e para estabelecer relações de causa e efeito de maneira confiável.

A observação e descrição desempenham papéis cruciais na ciência, permitindo aos pesquisadores coletar informações detalhadas sobre fenômenos naturais e sociais. Esses métodos são essenciais para entender a realidade ao nosso redor, identificar padrões, formular hipóteses e construir teorias. No contexto científico, a observação e descrição são fundamentais para capturar informações detalhadas sobre os fenômenos estudados, fornecendo uma base sólida para investigações posteriores.
Especificamente, na pesquisa social e comportamental, a observação é uma ferramenta poderosa. Ela permite aos pesquisadores estudar o comportamento humano e animal em contextos naturais ou controlados, explorando padrões de comportamento, crenças e práticas culturais. Exemplos clássicos incluem o estudo de Konrad Lorenz sobre a imprinted de gansos e a pesquisa de Margaret Mead sobre os padrões de comportamento em adolescentes samoanos.

No entanto, a pesquisa observacional enfrenta desafios significativos ao testar relações de co-variação e causalidade entre variáveis. A falta de controle experimental dificulta a atribuição de relações causais definitivas, já que outros fatores não observados podem influenciar os resultados. Além disso, a presença de viéses de observação e interpretação pode distorcer os resultados, exigindo cautela na análise e interpretação dos dados observacionais.
Apesar dessas limitações, a pesquisa observacional é essencial em situações onde a manipulação de variáveis é impraticável ou antiética, como em estudos de comportamento animal em seu ambiente natural ou em pesquisas sobre interações sociais humanas complexas. Além disso, a observação é valiosa para gerar novas hipóteses e explorar fenômenos pouco compreendidos. Portanto, embora a pesquisa observacional tenha suas limitações, quando realizada com rigor metodológico e cautela interpretativa, ela continua sendo uma ferramenta valiosa para a investigação científica.

O último tipo de pesquisa que gostaria de comentar trata da pesquisa ou método quase-experimental. O método quase-experimental é uma abordagem de pesquisa que combina elementos dos métodos experimental e observacional. Ele compartilha semelhanças com o método experimental, pois envolve a manipulação de variáveis independentes, mas não inclui o total controle experimental típico do método experimental tradicional. Por exemplo, em um estudo quase-experimental, os participantes podem não ser atribuídos aleatoriamente a diferentes grupos de tratamento, como é comum em experimentos verdadeiramente controlados. No entanto, assim como no método experimental, o método quase-experimental busca estabelecer relações de causa e efeito entre variáveis. Por meio da comparação entre grupos ou condições, o pesquisador busca identificar padrões de co-variação, correlação e possíveis relações de causa e efeito. Embora o controle experimental seja menos rigoroso em comparação com a pesquisa experimental, o método quase-experimental ainda oferece insights valiosos sobre as relações entre variáveis em condições do mundo real. Em relação ao método indutivo, o método quase-experimental compartilha a ideia de formular hipóteses a partir de observações específicas. Os pesquisadores observam padrões de co-variação entre variáveis e, com base nessas observações, formulam hipóteses sobre possíveis relações de causa e efeito. Embora o método quase-experimental não forneça a mesma certeza que experimentos controlados, ele ainda contribui para o desenvolvimento e teste de teorias científicas.

Uma pesquisa é considerada quase-experimental quando envolve a manipulação deliberada de uma ou mais variáveis independentes pelo pesquisador, mas não inclui todos os elementos de controle experimental típicos da pesquisa experimental. Enquanto na pesquisa experimental os participantes são frequentemente atribuídos aleatoriamente a diferentes grupos de tratamento, na pesquisa quase-experimental essa atribuição pode ser não aleatória ou baseada em critérios específicos, como características demográficas ou disponibilidade. O arranjo característico de uma pesquisa quase-experimental envolve a comparação entre grupos ou condições, sem necessariamente ter o mesmo nível de controle experimental encontrado na pesquisa experimental. Isso significa que enquanto o pesquisador manipula variáveis independentes para observar seus efeitos sobre as variáveis dependentes, outros fatores não são controlados da mesma forma que em um experimento tradicional. Portanto, a distinção principal entre pesquisa experimental e quase-experimental reside no nível de controle experimental. Enquanto a pesquisa experimental busca um controle rigoroso de todas as variáveis não manipuladas, a pesquisa quase-experimental permite uma manipulação controlada das variáveis independentes, mas com menos controle sobre outros fatores que podem influenciar os resultados.

Cada tipo de pesquisa tem suas vantagens e desafios próprios e a escolha do tipo de pesquisa mais adequado dependerá de fatores como o objetivo do estudo, os recursos disponíveis e a natureza do fenômeno investigado. A pesquisa científica é uma ferramenta inestimável para o entendimento do mundo ao nosso redor. Ao compreendermos os diferentes tipos de pesquisa, estaremos aptos a selecionar a abordagem mais adequada ao nosso estudo, permitindo a obtenção de resultados confiáveis e significativos.

Sessão especial 3,2,1…

Filmes

“A Rede Social” (2010), dirigido por David Fincher, aborda o processo de criação do Facebook e a pesquisa realizada por seus fundadores para entender o impacto da rede social na interação social.

“Spotlight — Segredos Revelados” (2015), dirigido por Tom McCarthy, retrata uma equipe de jornalistas investigando um caso de abuso infantil na igreja católica, usando principalmente pesquisa observacional para coletar informações.

“O Experimento de Aprisionamento de Stanford” (2015), dirigido por Kyle Patrick Alvarez, é um filme baseado em um estudo real que investigou as dinâmicas de poder em situações de confinamento, usando um projeto de pesquisa quase-experimental.

Livros

Creswell, J. W. (2014). Research Design: Qualitative, Quantitative, and Mixed Methods Approaches (4th ed.). Sage Publications.

Cozby, P. C. (2012). Métodos de Pesquisa em Ciências do Comportamento (11th ed.). Atlas.

Campbell, D. T., & Stanley, J. C. (1963). Experimental and Quasi-Experimental Designs for Research. Houghton Mifflin Company.

Artigo

Shadish, W. R., Cook, T. D., & Campbell, D. T. (2002). Experimental and Quasi-Experimental Designs for Generalized Causal Inference. Houghton Mifflin Company.

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Luiz Henrique Santana

Neuropsicólogo e Neurocientista. Divulgador Científico. Poeta de quinta. Bailarino de terceira. Tentando ser um pai de primeira.